segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

acorda-me


Agora sonho com anjos.
Esta febre de ópio mata-me de real.

Anjos sem asas que voam
Pela memória até ao sangue.
Nascidos dos orgasmos passados
E dos desejos futuros.

Acorda-me amor, que sofro.

Abdul-Hamid

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Devaneios

Parecia adormecido, irremediavelmente parado, talvez até morto...

E de repente deu-lhe a vontade de dançar

Enquanto o anoitecer amanhecia...

domingo, 18 de maio de 2008

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Poeta castrado, não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Ary dos Santos

segunda-feira, 12 de maio de 2008

…LES MAINS PLEINES

… AS MÃOS CHEIAS

Aos inocentes

Se vos perguntassem, à queima-roupa
A inocência é uma virtude?
Eu cá não respondia
Tentava desconversar
Diria: «— Vossemecê já leu Cézanne?»
Algumas pessoas esquecem-se de mentir
E afirmam: «— Não faço ideia!»
Não podemos obrigá-las a todas.
Naturalmente, a inocência não é uma virtude
Porque, passado tempo, seria de desconfiar
A minha tia tinha imensas virtudes.
Ainda as tem. E ela é velha.
Os Gregos também tinham virtudes
E os Gregos não eram inocentes
Visto que guilhotinaram Sócrates.
É difícil de julgar, claro, nós não estávamos lá
Mas o mais seguro, em semelhante circunstância
É abster-nos de responder
E tentar desconversar...
Caso não se consiga, podemos sempre suicidar-nos.

[Boris Vian]